Longe do Universo Fantástico, Fanning e Stewart Surpreendem em Trama com Sexo, Drogas e Música
Formada apenas por jovens mulheres, a banda The Runaways chamou a atenção nos Estados Unidos dos anos 70. Primeiro, por se impor em um cenário predominantemente masculino. E, claro, por conta da música, forte e de impacto. “The Runaways’’, filme da estreante Floria Sigismondi, conta a história de como elas alcançaram o sucesso e, eventualmente, se dissolveram. Sigismondi, que tem no currículo a direção de clipes de várias estrelas do rock, escolhe o ponto de vista de Cherie Currie e, com menor destaque, de Joan Jett, duas das cinco integrantes da banda, interpretadas, respectivamente, por Dakota Fanning e Kristen Stewart. O filme está previsto para estrear em oito de outubro.
Ao se estender na vida pessoal de Cherie e, em paralelo, mostrar o interesse musical de Joan, “The Runaways” fica sem um foco definido e deixa de lado a história da banda, com seus conflitos e processos criativos. Há, inclusive, poucas falas para as outras três garotas do grupo, que aparecem quase como figurantes. Apesar disso, a diretora capricha na reconstituição de época, na caracterização (os cortes de cabelos, maquiagens e os saltos plataformas, por exemplo) e consegue reproduzir muito bem o clima de rebeldia que se estabelecia como postura crítica, sem moralizar o uso de drogas ou o comportamento sexual. Mais ainda: consegue interpretações convincentes e ousadas das atrizes principais, especialmente de Dakota, que na pele de Cherie aparece vestida apenas com corpete e cinta liga para cantar “Cherry Bomb” no palco.
Cherie (Dakota), então a vocalista, é o destaque e é a única a ter sua vida familiar explorada. Sua relação conturbada com a mãe separada, o pai alcoólatra e a irmã ganham bom espaço. Com boa interpretação de Stewart, Joan fica ligeiramente em segundo plano. A guitarrista morena de visual masculizado aparece como articuladora da banda e a mais envolvida com um projeto musical. Tanto que, com o fim da Runaways, ela emplacou hits como “I Love Rock ‘n Roll”, à frente da Joan Jett and the Blackhearts.
Os diálogos entre Cherie e Joan são rasos, não raro substituídos por meias palavras e olhares lânguidos. Os gestos acabam sendo mais representativos, incluindo o tão falado beijo entre as atrizes, que garante uma das cenas mais bonitas do filme. Quem fica com as melhores falas é Kim Fowley (Michael Shannon), o produtor irreverente que enxerga na transgressão uma oportunidade de chocar o mundo e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro.
Como “dono” da banda (ele ajuda a formá-la), Fowley acaba resumindo em seus discursos o clima que as garotas respiravam na época. Em meio a referências a David Bowie, Sex Pistols e Farrah Fawcett, curtiam uma efervescência musical e rebeldia juvenil, com direito à busca da liberdade sexual feminina e à negação dos costumes dos pais, tidos como caretas. Um bom cenário para Fanning e Stewart mostrarem algo bem diferente do universo fantástico e infanto-juvenil da saga “Crepúsculo”: desta vez há muito mais sexo, drogas e rock´n roll, não necessariamente nesta ordem